Eu passei uns 20 dias sem fumar. No começo, eu tava meio irritadiço, que é meu estado natural. Eu não fico irritável por estar se maconha, eu fico mais de boa quando estou com. Sabe a chavão que adoram repetir: “fulano transforma fumar maconha na sua personalidade.” DU-UH! Jura? É claro que eu faço isso. Eu odeio minha personalidade original. Eu quero apresentar a melhor versão minha pro mundo.
Mas então, fiquei sem fumar maconha. Surpreendentemente perseverei e depois de uns dias eu já nem ligava mais por 3 truques simples, como um pouco de meditação, leitura e uma quantidade alta de cigarros.
Eu comecei a fumar muito tabaco nesses dias. E isso meio que sanou a sede por um baseado. Especialmente porque era desses tabacos orgânicos que eu enrolava, o que tinha a ver com o ritual de fumar baseado. Algumas áreas do meu prazer estavam sendo atendidas: enrolar olhando um filme e ter um pinto de fogo na boca, enquanto solto a fumaça desse pinto.
Mas eu passei muito mal depois de uns dias. Eu não gosto de tabaco. Não gosto do cheiro que minha mão fica, não gosto do sabor que deixa na língua, eu não sei por que eu consumi tanto uma época, pelo menos por uns 6 anos. Creio que alguma namorada minha fumava e eu fiquei influenciado. Eu fumava aquele mentolado LA. Alguns caras insinuavam que eu era gay mas eu sabia que a gente estava perseguindo o mesmo câncer, então por que não aproveitar um pouco de refrescância na jornada?
Não me importei muito com a ideia ser gay por conta desse cigarro mas com o tempo o sabor dele passou e me incomodar muito. Aí eu mudei para os sem-sabor da… Marlboro? Hollywood? Não sei, mas era o “light”. Todo mundo fumava o “light”, e um dia por falta de “light” numa cidade do interior em que eu estava gravando um mini-doc, eu comprei um Marlborão vermelho. Esse sim era um cigarro que permitia que eu fizesse insinuações homofóbicas em direção aos meus amigos. Eu não fazia mas eu sabia que eu tinha o maior pau da mesa agora. Segundo as embalagens, o maior pau broxa, na verdade. Mas ainda assim.
Aliás, eu detestava aquela piada de pedir um maço que não te deixa broxa. Eu odiava. Acho que a primeira vez que eu ouvi isso, dei risada, mas esses avisos estão nas embalagens desde tipo 2013, então conviver com um fumante era lidar com essa piada mais vezes do que a do pavê, que eu acredito já ter dado a volta, e ser muito boa.
Há uma grande consciência de quão vergonhosa é a piada do pavê. Então aquele que faz é um herói da oratória, um homem que não importa em ser tido como ignorante sem engenho da família, ele só quer se sacrificar falando isso mesmo sabendo que vocês estão rindo dele, não com ele. Isso para mim é um cara muito forte.
Eu tinha até uma frase legal sobre meu tabagismo: às vezes algum pentelho falava pra mim que “fumar é suicídio”, no que eu respondia:
“É, eu tô tentando fazer isso de maneira discreta.”
Até que eu passei a tossir muito e falar “chega dessa merda. Eu como gordura e não me exercito. Eu tenho que fazer alguma coisa a favor do meu coração.”
Ah sim, eu fiquei sem fumar maconha porque estava sem grana. E eu não sou desses maconheiros que coloca maconha no topo das necessidades básicas. Maconha vem depois de leite, aluguel, remédios e bonecas de sexo realísticas (apenas quando entram na promoção na Internet.)